Cidades de SC vivem fevereiro mais quente da história, mostra levantamento
por ECX Online
SA NTA CATARINA – O calorão previsto para esta última semana do mês fechará o fevereiro mais quente da história para diferentes municípios de Santa Catarina. Dados das estações meteorológicas da Epagri mostram o quanto o calor tem castigado os moradores neste verão. Havia tempo que a expressão “um sol para cada um” não fazia tanto sentido para o Estado como nas últimas semanas.
A primeira onda de calor oficialmente identificada pela Defesa Civil em solos catarinenses neste verão foi entre os dias 10 e 14 de fevereiro. Para configurar o fenômeno, são necessários cinco dias consecutivos com a temperatura 2ºC acima da média para a época, considera a equipe da Epagri. A meteorologista do órgão, Gilsânia Cruz, pondera também que é preciso olhar para as regiões separadamente, já que cada uma tem suas especificidades.
Ainda assim, o calor não tem poupado todo o Estado. A estação da Epagri em Sombrio, no Sul, registrou 40ºC no dia 11, a maior temperatura da cidade desde que o equipamento foi instalado, há 20 anos. Na vizinha Meleiro foram sufocantes 41,1ºC — o mais elevado em 15 anos. Florianópolis teve calor de deserto na segunda-feira (17), com temperatura de 39,1°C no Norte da Ilha, o maior registro da década. Em Blumenau, no Vale do Itajaí, a maior sensação térmica no mês de fevereiro desde 2017 ocorreu neste ano, com 44,7ºC.
A sensação térmica, que é a combinação de fatores como a umidade, vento e temperatura, causa o “abafamento” típico do verão. É a condição, inclusive, que influencia na análise do conforto térmico das pessoas. Pesquisador do tema, o professor de biometeorologia da Universidade Federal da Fronteira Sul, Anderson Nedel, comenta que os últimos dias foram de extremo desconforto devido ao calor excessivo.
— Nós estamos em conforto quando a produção de calor pelo corpo é igual à perda de calor — detalha.
Ele cita a possibilidade de danos cerebrais para quem passa muito tempo ao ar livre fazendo alguma atividade física e um aumento na quantidade de idosos com problemas cardiovasculares mortos durante dias de muito estresse térmico — esse último objeto de pesquisa do professor.
Cada vez mais quente
Em dias como os que foram observados em Santa Catarina — acima ou perto dos 40ºC —, se tem uma coisa que não ocorreu foi conseguir se sentir bem fora de ambientes climatizados. Gilsânia ressalta que esses episódios são normais para a estação, mas há uma realidade de pano de fundo que intensifica o “calorão”: o aquecimento global.
A temperatura da terra atingiu 1,75ºC acima da média em janeiro, depois de 2024 ser o ano mais quente da história, conforme dados da Organização Meteorológica Mundial. Tanta energia na atmosfera faz os extremos climáticos se tornarem ainda mais destrutivos.
— O aquecimento global faz com que a gente tenha mais extremos, isso é fato, não tem como negar, estamos vendo — analisa a meteorologista.
Muito mais que a adaptação individual durante o chamado estresse por calor está a necessidade das cidades se prepararem para todo o tipo de eventos extremos, ressalta o cientista do Instituto de Estudos Avançados da USP, Carlos Nobre. A ciência alertou que o mundo chegaria a este ponto, mas não tão rápido:
— Agora estamos na urgência de buscar a adaptação, mudar políticas públicas. Se não baixar a temperatura global, todos os anos teremos extremos piores e não estamos preparados ainda. Ninguém está — lamenta.
Ele defende que se as emissões dos gases do efeito estufa forem zeradas, será possível frear o aumento da temperatura. Para isso, porém, o caminho é o oposto do percorrido até aqui: no lugar das chamas, restauração florestal impulsionada com a ajuda da tecnologia, extensas áreas verdes em meio à urbanização e respeito às matas nativas (que não devem ser destruídas para dar lugar a construções) estão na lista exaustivamente repetida pelos especialistas.