Máfia dos caminheiros respinga em SC e esquema tem de herdeiro do crime a cabelo de criança
por ECX Online
SANTA CATARINA – Mechas de cabelo de criança em laboratórios, moldes de digitais para forjar presença na autoescola e “herança” do crime. Essas são as principais descobertas feitas pela Polícia Civil durante a investigação de um esquema de fraude de exames toxicológicos de caminhoneiros e outros motoristas de veículos pesados. A operação, que teve mandados cumpridos em Santa Catarina, foi tema de uma reportagem especial do programa Fantástico, na Globo, no domingo (10).
Batizada de Toxicoloko, a ação foi feita simultaneamente em setembro em Santa Catarina, São Paulo e Paraná, onde oito suspeitos foram presos e provas de uma grave ameaça à segurança nas estradas do país foram recolhidas através de dez mandados de busca e apreensão. Um homem foi autuado em flagrante em Brusque pelo porte ilegal de arma de fogo.
Ordens também foram cumpridas em São João Batista, Diadema (São Paulo) e Rio Branco (PR). Na prática, o grupo ajudava dependentes químicos a emitirem a carteira de habilitação nas categorias que exigem o teste para demonstrar a não utilização de drogas.
As investigações começaram em maio de 2022, quando um homem envolvido em furto de cargas no Paraná contou que, para poder dirigir caminhão, tinha burlado a lei para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) mesmo fazendo uso de entorpecentes.
Assim, o esquema começou a ser descoberto. Para conseguirem o resultado do exame favorável, os condutores compravam os laudos falsos, que eram feitos usando materiais de outras pessoas. O exame toxicológico é obrigatório em três categorias da CNH que autorizam a condução de veículos de cargas e de passageiros. Para fazê-lo, o candidato precisa fornecer uma amostra de pelo, cabelo ou unha. Delegado de Furtos e Roubos de Cargas da Diretoria Estadual de Investigações Criminais de Santa Catarina, Osnei de Oliveira conta que até cabelo de criança serviu para a fraude:
— Identificamos mechas de cabelo de uma menina que foi coletado e utilizado para fazer diversos exames se passando por motoristas que tinham dependência química — detalhou.
Além do teste negativo, é preciso também fazer as aulas em Centros de Formação de Condutores para tirar a CNH. Nessa fase, outra falcatrua: para driblar o registro de comparecimento às aulas, uma das autoescolas envolvidas no caso, chamada Elite, no interior de São Paulo, fazia moldes de silicone das digitais dos alunos. Assim, o objeto marcava a presença de quem sequer frequentava o espaço.
Um dos donos da Elitte, Francisco Gonçalves Júnior, foi preso na operação Toxicoloko. Ele também vai responder por porte ilegal de arma. A defesa de Francisco disse que as acusações são inverídicas e fantasiosas e que confia na Justiça.
O articulador do esquema das digitais é apontado como Lucas Ferreira. Ele teria “herdado” o negócio do pai, que morreu na pandemia. Lucas foi preso no Paraná.
A fraude reunia dois pontos de coleta de laboratórios credenciados pelo Detran no Paraná, uma autoescola em São Paulo e outra em Santa Catarina. A polícia identificou mais de 40 motoristas que contrataram os serviços ilegais.
Em notas, o Detran do Paraná, o Detran de São Paulo e o Detran de Santa Catarina afirmam que, se comprovadas as fraudes, as CNHs vão ser canceladas. As autoescolas em Santa Catarina e em São Paulo vão sofrer processo administrativo. Lucas Gustavo Ferreira ainda não tem advogado e a defesa de José Arildo de Castro, que deu o depoimento que deslanchou a investigação, não se manifestou.